14 maio 2007

... e aí ?!

de Cesar Cardoso

...tá gostando de fazer? Você imaginava que ia ser assim, ou esperava de outro jeito? Sei lá tem tanto jeito, não é mesmo? Tem gente que faz de trás pra frente, tem gente que prefere de baixo pra cima... Agora, seja lá quem for, eu acho que todo mundo imagina antes como vai ser. Você concorda comigo?
Mas e nós, vamos dar uma paradinha ou você quer ir logo adiante? Posso dar uma sugestão? Vamos dar uma paradinha, agora. Depois a gente recomeça tudo de novo. É tão gostoso. E nunca é a mesma coisa, nunca é do zero que a gente recomeça, você não acha? Pelo menos comigo é assim, eu acho esse jeito prazeroso e várias vezes eu vou por esse caminho.
Mas a gente também pode ir de uma vez sem parar num fôlego só sem vírgula. Também é legal. A verdade é que não tem regra, nem lei, não é? Bom, no começo até tem, mas depois a gente pode largar isso de mão e vai no improviso, que nem músico de jazz. Ensinam a gente – quando ensinam – que tem que ser assim ou assado. Mas é tudo conversa fiada. Eu faço de várias formas e quanto mais formas eu descubro melhor fica. Às vezes tem uma maneira lá que é ótima e eu me deixo um bom tempo só com ela, numa espécie de apaixonamento. Depois eu mudo de novo e um dia qualquer me lembro daquele jeito e faço ele outra vez, para matar as saudades. E depois... e depois.. e depois...
Enfim, eu? Pra mim tanto faz desde que faça tanto. Faço deitado, faço de pé, sentado, na cama, no chão, no sofá, na mesa da sala, rapidinho no elevador, no carro estacionado numa rua erma, num ônibus interestadual cortando a noite numa estrada qualquer, no banheiro de uma festa na casa de amigos, até numa cabine 24 horas eu já fiz. O negócio é se concentrar e daí dá pra fazer na arquibancada do Maracanã em dia de Fla-Flu ou na Catedral Metropolitana durante a missa do galo. Você concorda comigo? Experimenta, deixa a vergonha pra lá, é legal. No começo a gente fica sem jeito, vai subindo aquele calor pelo rosto com as pessoas te vendo e te escutando, mas depois é relaxar e curtir. E repetir sempre que possível.
Pensar que tanta gente no mundo não pode fazer, que absurdo! As mulheres, como sempre, foram as mais prejudicadas por essas proibições. Na Idade Média, então, eram capazes de ir para fogueira se os padres a encontrassem fazendo. Ou mesmo se descobrissem simplesmente que elas sabiam fazer. Queriam só pra eles...
Você lembra da primeira vez? De como começou? É uma sensação que a gente leva pra sempre, mesmo recordando de todas as dificuldades, não acha? E pensar que nunca mais, nunca mais a gente vai deixar de fazer. Mesmo agora....
Tem poucos pra zeres no mundo que se igualam a esse. Bom, mas é que é tão gostoso, chega de falatório, não é mesmo? Vamos continuar fazendo, vamos?
(Na verdade eu já fiz antes de você, afinal eu sou o autor deste texto. Mas e você, que está chegando aqui pela primeira vez, me diga : ler é ou não é um tesão?)

*Cesar Cardoso é escritor.
Texto publicado na Revista Caros Amigos de fevereiro de 2007.

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