24 julho 2007

TAM PAN foi tudo

por Alfredo Oliveira Neto*

Um pequeno gringo galego me saldou com um “ban djaia” após sua mãe o ter espremido para ele retrucar o meu “bom dia” de elevador. “Bom dia is the same of good morning”. Ao sairmos à rua, sorri quando ele insistiu “Mexico”, tendo como resposta: “no, portuguese, Brazil!”. Toda essa lição de português para gingos galegos pequenos me fez lembrar do PAN demônio que, por aqui, está PAN longe mesmo eu PAN perto, às vezes, servindo como gandula das bolas que caem no meu quintal. Falando em quintal, o Rio floresce: chafarizes esguicham água para todos os lados – os pombos não mais morrem de sede; os cachorros se encadeiam com as luzes estroboscópicas dos postes públicos e os carros de polícia não mais exibem os acessórios artísticos expressionistas para fora das janelas. Dizem até que os traficantes aproveitaram a deixa e estão ocupadíssimos em volta do I Congresso do Tráfico: uma análise da complexidade dos alemães.
Tudo na mais santa paz, uma paz amedrontadora, a não ser para uma gringa família feliz que, após um agradável almoço em Santa Tereza, foi ter a ousadia de se confessar numa igreja e acabou sendo batizada com um 3 oitão.
Em matéria de espaço, engana-se quem pensa que no Rio não cabe nem caixão na vertical. Visitei a UFRJ e a Fiocruz, a primeira uns 10 campus de futebol, a outra esbanja toda a sua riqueza e pompa em 800 mil metros quadrados. Passarei o “colect call” ainda hoje para os companheiros emessentistas, estimulando-os a sondar a quantidade de departamentos improdutivos. Já dariam uma grande mão a esta suposta mega revolução burocrática da Fundação Estatal de direito privado – “onde há mistura, há Brasil” – onde, pelo que entendi o rei-gestor, imbuído da lei do seu castelo, fará congelar corações a chacoalhar a musculatura dos súditos que não derem “bom dia” aos plebeus do Reino da Mistura. Interessante lembrar que o rei magno e a sua corte, há 10 anos, quando do lançamento da idéia num reino não tão diferente desse de hoje, só faltou decapitar o soberano da época e, agora, emendam de cetro abaixo na goela do povo o mesmo projeto. O meu sogro, um google-humano de plantão, o Conselheiro Sir Mr. Giba, grande estudioso do assunto, contesta esse vício do nosso Reino em se mudar a casca e a polpa continuar com o mesmo azedo de sempre. Defende a aplicação, por parte dos atuais gestores, dos dispositivos legais já existentes para acordar do sono profundo grande parte do funcionalismo público. Medidas simples, porém sérias, como estimular o usuário a escrever para as caixinhas de sugestões, que devem estar distribuídas amplamente nas repartições, e o uso racional desses dados através do conselho gestor já causariam um grande impacto. Ingenuidade? Não creio, partindo-se desse Conselheiro que batia boca com o Conde Bresser quando da reforma administrativa de 1998.
Bom, caso o projeto seja aprovado pelos conselheiros do Reino e os plebeus da CSN e CUT não consigam se esquivar da guilhotina, exigirei apenas que o MST, sem licitações, seja automaticamente o gran-fiscal responsável por identificar o escritório, departamento, sala de aula, ambulatório, enfermaria e coordenações improdutivos, haja vista seu enorme Know-how com terras.
Agora a última notícia do ar: antes fosse um blockbuster de catástrofe a colossal tragédia de Congonhas. A gota d´água da crise aérea. Vamos voltar a pegar carona! Onde estão os trens e os ferryboats? Devolvam-nos os bondinhos, as maxambombas, vamos voltar a criar cavalos! Mil vezes os enjôos dos navios. A aviação civil e militar deve parar e passar 15 dias meditando no interior do Mato Grosso do Sul sem dar um pio, sem doses de gestos para se ouvirem a si próprios. Em 96, com a mesma dupla Congonhas-TAM, 99 mortos. O promotor arquivou o caso, adivinhem quem será o da vez agora? O próprio. E os cento e lá vai da Gol do ano passado? Nada. Onde está a raiva do nosso Rei e a sua corte? O rubor, o tremor da face? O trincar de dentes, a vasta barba empapada de ira? Numa imagem de televisão da década de 80. Está encarcerada na masmorra do medo. Medidas educadas de lençinho no pescoço não farão os plebeus parcialmente satisfeitos, principalmente àqueles que perderam seus queridos.
Se se ficar nesse nem pinga nem molha, urge-se a necessidade de se inventar outros meios de transporte – cientistas: uni-vos! Seja qual for: telepatia, orelhão da matrix, skate voador de Marty McFly, a capa do superman, prancha do surfista prateado, a teia do homem-aranha, um pogobol digital. Não sei! Inventem! Não queremos ser vítimas da incompetência alheia. Não podemos, na hora sagrada da ida, presenciar os gritos e a fisionomia de espanto dos companheiros do assento ao lado. Uma tortura de holocausto. Irmos amassados, queimados, fatiados. Não. Por favor, não!
Temo num futuro próximo, lembrando o incremento da violência, acontecer uma das maiores contradições da história: internet 24h dentro dos nossos cérebros, o universo na cabeça e nossos pés presos no chão das nossas casas. Saberemos tudo de tudo e todos, porém poucos poderão pagar o preço da experiência. Do viver mesmo, como a que eu tive hoje pela manhã na praia ao salvar do afogamento uma borboleta de lindíssimas asas marrons, que sarrabulhava nas finas espumas das ondas do mar.
Por último, gostaria de pedir perdão a mim mesmo, meu leitor mais assíduo pela baixa freqüência das escritas, mas é que falta estímulo e, principalmente, prazo estabelecido, para poder procurar o papel para depositar minhas bobagens. É fato que não bato à porta de mídias já existentes e que não tenho a mínima paciência de ficar empiriquitando e atualizando meu blog. É fato também que todo aquele movimento para o jornal “A Massa” padece em coma de uma UTI esquecida e que estou cansado de ser gerente de idéias e projetos que não são concluídos. Mas quero deixar bem claro para mim mesmo que não deixarei a peteca cair, que ainda aborrecerei muita gente com minha caneta desafinada e, se preciso, lerei tomos de auto-ajuda e gastarei todos os meus plantões médicos para ampliar o canto da minha poesia e da minha crônica, meus gêneros favoritos. Sempre me mantendo no enxerimento da música, do teatro e do cinema.
Um grande beijo. Para mim.

PS1: Um brinde ao cartunista OTA e toda a sua corte.
PS2: Esse chororô do final foi depois de reler Fernando Pessoa em “somos do tamanho dos nossos sonhos”.
PS3: Um brinde ao Mestre das Serenatas, o Benito de Paula de Araripina, Seu Izaias, o velho do irmão Iza, que gravou há pouco o sonho de fazer um disco e fez de coração aberto e várias “ampolas de captopril”, tendo como músicos convidados Wila Wonca no violão, Cavaquinho de Brasilit no cavaco, Mané do Bandolim – nos ensaios –, e o seu discípulo Alfredinho do Pandeiro, o “Marco Suzano de Santo Amaro”.
PS4: Vamos plantar essa “A Massa” não mão do povo!
PS5: Há rumores que final de Agosto acontecerá o Arromba Total dos Macacos III e o lançamento da Rádio Azul.
PS6: Viva a Eddie e a sua maturidade, um dos melhores sons do Reino, sem sombra de dúvida.
PS7: Para os desavisados o meu 1º- livro que reúne crônicas seletas e poesias do coração já está no prelo do meu quarto. Sairá do forno ainda neste ano do nosso senhor.
PS8: Tanto tempo sem escrever dá nisso.
*Dispensa comentários esse rapaz! Mas por uma questão saudosistica ... foi companheiro no "RNA mensageiro". Já sabes que tens uma colaboradora pra "Massa", né?!

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