03 setembro 2006

"Na força da indignação, sementes de transformação" - Grito dos Excluidos 2006

O Grito dos Excluídos teve sua primeira “edição” em 1995 e se constitui numa manifestação popular para denunciar todas as situações de exclusão e assinalar as possíveis saídas alternativas. Antes de tudo, é uma dor secular e sufocada que se levanta do chão, se transforma em protesto, cria asas e se lança no ar de ponta a ponta do país e do continente. Objetiva unificar o grito dos empobrecidos, dos indefesos, dos pequenos, dos sem vez e sem voz – numa palavra, o grito dos excluídos; desinstalar os acomodados, ferir o ouvido dos responsáveis pela exclusão e conclamar todos e todas à organização e à luta.

O simbolismo se inicia na escolha da data: 7 de setembro; no dia em que se comemora a independência do Brasil o Grito se propõe a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa e de participação, colaborando na construção de uma nova sociedade, justa, solidária, plural e fraterna; e continua nas manifestações priorizam a criatividade e a mística, visando a sensibilização para o discurso e seu conteúdo através da linguagem simbólica.

Foi concebido (pela CNBB, Pastorais Sociais, Semana Nacional Brasileira, Movimentos Populares, sociais e sindical, Campanha Jubileu, Grito Continental, Igrejas, Multirão contra a Miséria e a Fome) para ser um processo de construção coletiva e tem como sentidos principais (1) denunciar o modelo político e econômico que concentra riqueza e renda na mão de poucos e condena milhões à exclusão social, (2) tornar público o rosto dos grupos excluídos enquanto sujeitos de sua história, lutadores, e (3) propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal com vistas a construir políticas construtoras de justiça social, com ampla participação de todos os cidadãos e cidadãs.

O lema desse ano: "Na força da indignação, sementes de transformação", “nasceu do esgarçamento ético de parcela significativa do Congresso Nacional, dos acordos espúrios entre partidos, do adiamento de reformas como a agrária e a política. A questão de fundo é fortalecer o novo sujeito histórico: os movimentos sociais. Trata-se, pois, de operar mudanças estruturais na sociedade, tarefa à longo prazo que exige organização e mobilização da sociedade civil, tanto para pressionar o governo e os donos do dinheiro, quanto para ocupar instâncias de poder. Não basta eleger homens e mulheres comprovadamente éticos e competentes para aperfeiçoar a nossa democracia. É preciso tornar ética a institucionalidade brasileira, vedando os buracos - legais e culturais - que facilitam a corrupção, o nepotismo, a malversação. Por isso, no próximo dia 7 de setembro, haverá mobilizações em todos os recantos do país para o Grito dos Excluídos ser ouvido pelos incluídos. Não é suficiente gritar. É preciso sobretudo agir, articulando a sociedade civil em movimentos sociais e criando conexões entre eles, pois o movimento dos sem- terra não deve ficar alheio ao que faz o movimento indígena, nem o dos negros indiferente às lutas das mulheres. Quanto mais fortes os vínculos de solidariedade entre eles, tanto mais rápido as sementes de transformação haverão de dar frutos.”

Lemas anteriores:
1995 – “A Vida em primeiro lugar”

1996 – “Trabalho e Terra para viver”

1997 – “Queremos justiça e dignidade”

1998 – “Aqui é o meu país”

1999 – “Brasil: um filho teu não foge À luta”
Fortalecido, o Grito estendeu-se para outros países da América Latina. Nestes países, a data utilizada como símbolo do manifesto é o dia 12 de outubro, que relembra a colonização espanhola das Américas e a resistência e luta dos povos. Hoje já são mais de 20 países.

2000 – “Progresso e Vida, Pátria sem Dívida$”
O Grito foi um dos articuladores do Plebiscito da Dívida Externa contou com a participação de mais de seis milhões de pessoas, sendo que mais de 95% disseram não ao pagamento da dívida, e sim à realização de uma auditoria da mesma.

2001 – “Por amor a essa pátria Brasil”

2002 – “Soberania não se negocia”
Por meio da organização do Grito, as urnas foram levadas a todo o território nacional para o plebiscito pela não negociação da Área Livre de Comércio das Américas (Alca). Mais de 10 milhões de votantes, sendo que se envolveram diretamente na organização mais de 150 mil voluntários. Foram 46 mil urnas, espalhadas em mais de 3900 municípios: 98% dos votantes disseram não à Alca; 96% rejeitaram as negociações sobre a mesma e 98% não aceitam a entrega da Base de Alcântara, no Maranhão, para controle militar dos Estados Unidos.


2003 – “Tirem as mãos... o Brasil é nosso chão”
O símbolo foi uma fita verde e amarela com a frase: “Vacine-se contra a Alça.”

2004 – “Brasil: mudança pra valer, o povo faz acontecer”

2005 – “Brasil em nossas mãos e mudança”

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*Esse texto foi baseado em documentos da Organização do Grito -http://www.gritodosexcluidos.org.br/ (A história do grito dos excluídos); e da Agência Brasil de Fatohttp://www.brasildefato.com.br/ (A defesa do protagonismo popular do GB, e Grito dos Excluídos por Frei Beto).

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